Materna traz abordagem Pikler para educação infantil

“Os olhos não bastam para ver. Tem que saber observar, sentir e pensar no lugar da criança, poder entrar no seu mundo, identificar-se com ele”. (Emmi Pikler)

Pouco conhecida no Brasil, a abordagem Pikler-Lóczy é baseada nos estudos e experiências da pediatra austro-húngara Emmi Pikler. Em 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a médica fundou o Instituto Lóczy, em Budapeste. O local serviu para abrigar órfãos e crianças de até 3 anos que não podiam ficar com seus pais devido à epidemia de tuberculose.

Na instituição, Pikler teve a oportunidade de colocar em prática seus estudos a respeito do desenvolvimento dos bebês, respeitando suas individualidades e valorizando a relação afetiva entre o adulto e a criança. Ali, ela modificou as bases do que se entendia sobre cuidados (algo que, até então, garantia apenas a perfeita higiene dos pequenos) tornando as interações muito mais afetivas e garantindo gerações de adultos saudáveis, mesmo com a orfandade e o abandono vividos na infância.

Numa abordagem pikleriana, alguns princípios norteadores da prática são de fundamental importância no estabelecimento de uma relação adequada entre adultos e crianças muito pequenas. São eles: uma relação afetiva de qualidade entre os cuidadores e os bebês; a valorização da atividade autônoma e exploratória da criança como motor de conhecimento; a manutenção dos ritmos e da regularidade nos fatos, nos espaços e no tempo, permitindo que a criança sinta segurança em seu entorno; a dimensão extraordinária da linguagem como meio de comunicação pessoal e de garantia de segurança emocional.

Para o estabelecimento de uma relação afetiva de qualidade e com profundo respeito pelas crianças é necessário que se observe atentamente suas necessidades individuais. Assim, no momento dos cuidados com o bebê e a criança pequena (banho, troca de fraldas, sono, alimentação), os movimentos devem ser suaves, sem pressa, a fala acolhedora e a atenção do educador deve estar completamente voltada àquele de quem se cuida.

A valorização da atividade autônoma baseia-se, sobretudo, no reconhecimento da capacidade de desenvolvimento dos pequenos. Assim, organiza-se o entorno de modo que os bebês se sintam seguros, com possibilidade de espaços e lugares necessários para a liberdade de movimentos e toma-se o cuidado de nunca colocar uma criança em uma posição (ou brinquedo) que ela não consegue adotar ou abandonar por si só.

A manutenção dos ritmos acontece, especialmente, na preservação de rotinas bem estruturadas, nas quais os pequenos passam a perceber a sequência de atividades e a prever os próximos acontecimentos na medida em que os dias passam.

A linguagem, por sua vez, funciona como uma “pele psicológica”: o ritmo, a sonoridade, a delicadeza, a sinceridade com que se fala a uma criança muito pequena funciona como um envoltório de segurança para ela.

Na Materna, esse método começou a ser implantado em 2016. Privilegiamos o olhar cuidadoso sobre a criança pequena, enxergando-a como um ser humano completo que precisa de auxílio em alguns aspectos (afetivo, nos cuidados, por exemplo), mas que, por outro lado, precisa de liberdade para desenvolver-se.

Pesquisas neuro-científicas demonstram que relações afetivas de qualidade e que implicam em afeto e segurança para os bebês geram produção de mielina no cérebro (substância que protege as células nervosas e garante conexões neuronais de qualidade), o que implica em criar bases adequadas e permanentes para a formação da inteligência da criança.

Devido à importância de oferecer aos pequenos um espaço seguro para que eles se movimentem e brinquem com liberdade, assim como a certeza de relações de afeto de qualidade, os resultados desse método apontam para o desenvolvimento de crianças mais independentes, felizes e com uma tranquilidade interna que se reflete em todos os momentos do dia e na interação com os adultos. Assim, os adultos também se tornam mais tranquilos e dispostos a compartilhar bons momentos com seus bebês.

 

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